O modernismo brasileiro (cuja certidão de nascimento é a Semana de Arte Moderna de 1922) propõe um leque de ruturas no esforço de constituir uma tradição nacional de modernidade.
Introdução e Objectivos
Em sua primeira fase, extremamente combativa, procurou um afastamento em relação à literatura e à língua lusitanas, com o objetivo de fundar uma mitologia estética própria, com a contribuição da oralidade, das culturas populares e dos elementos identitários brasileiros.
Depois deste momento de negação da cultura portuguesa, a Geração de 1930, a do romance regional, vai restaurar as conexões com Portugal, construindo uma irmandade de linguagens e de temas, sempre respeitando as particularidades de cada universo. Um dos elementos de reaproximação foi a leitura criativa das narrativas queirosianas por autores como Graciliano Ramos, Érico Veríssimo ou José Lins do Rego.
O romance de estreia de Graciliano Ramos (Caetés – escrito em 1928 e só publicado em 1933), talvez o mais queirosiano dos romances brasileiros modernos, será um dos exemplos tratados neste curso para demonstrar a renovação da gramática narrativa a partir da matriz oitocentista não só de romances como O primo Basílio, O crime do Padre Amaro ou Os Maias, mas também de obras menores como Alves e Cia., precisamente (re)editadas nos anos 20 do século XX.
Para além das obras queirosianas referidas, recomenda-se a leitura prévia de Caetés, de Graciliano Ramos.
Públicos/Formato
O Curso de Verão destina-se a todos os interessados na obra queirosiana e na área cultura / literatura / media, nomeadamente a professores (sobretudo, Ensino Secundário), estudantes universitários nacionais e internacionais (graduação e pós-graduação), estudiosos e pesquisadores nas áreas de Ciências de Comunicação, Estudos Culturais e Literários.
O formato de Curso de Verão / Seminário Internacional corresponde a um padrão, com uma tradição consolida desde 1998. Vd. as temáticas das últimas edições.
Com cada edição, as temáticas e as leituras recomendadas variam.
Coordenação Científica
Prof. Orlando Grossegesse
(CEHUM / ILCH – Universidade do Minho)
Orlando Grossegesse
Professor associado da Universidade do Minho. Desde 1990 é docente / investigador nas áreas de Literatura e Cultura Alemãs e Comparadas, Tradução e Comunicação Multilingue. Desde 2004 também ensina Estudos Queirosianos. Estudou Filologias Românicas e Comunicação Social na Universidade de Munique onde se doutorou em 1989 com uma tese sobre a relação entre conversação e discurso literário na obra queirosiana, publicada sob o título Konversation und Roman (1991). Publicou numerosos estudos no âmbito das Filologias Alemã, Portuguesa, Espanhola e Comparada.
Para além da tese de doutoramento, as publicações em livro mais relevantes são: Saramago lesen. Werk – Leben – Bibliographie(1998; 2ª ed. ampliada e atualizada 2009); atas de colóquios e congressos (organizadas ou co-organizadas), entre outras: «O estado do nosso futuro». Brasil e Portugal entre identidade e globalização(2004); com Henry Thorau, À procura da Lisboa africana (2009); com Mário Matos, Mnemo-Grafias Interculturais (2012). Membro do Conselho Administrativo e da Comissão Coord. do Conselho Cultural da FEQ e dir. adjunto da Queirosiana (org. das últimas cinco edições: 15-17; 18-20; 21/22; 23/24; 25).
Professores Convidados
Arnaldo Saraiva
Professor emérito da Universidade do Porto, de cuja Faculdade de Letras foi professor de literatura portuguesa, francesa, brasileira e de literaturas orais e marginais, tendo também ensinado na Universidade da Califórnia em Santa Barbara (1978-1979), na Universidade de Paris – Sorbonne Nouvelle (1993-1994) e na Universidade Católica Portuguesa – Porto (2003-2009) e feito cursos ou conferências em universidades de numerosos países.
Foi fundador do Centro de Estudos Pessoanos, presidente da Fundação Eugénio de Andrade, cronista do Jornal de Notícias, Público, Diário de Notícias e Jornal do Fundão, director das revistas Persona, Terceira Margem e Cadernos de Serrúbia, colaborador da RTP e da Radiodifusão Portuguesa e ator em filmes de Luís Galvão Teles, António Reis, Saguenail e Joaquim Pinto. Sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras, é autor de extensa bibliografia (ensaio, poesia, crónica e tradução).
De temática brasileira, destacamos O Modernismo Brasileiro e o Modernismo Português (1986; 3ª ed. 2015), Conversas com Escritores Brasileiros (2000), Correia Dias, esquecido e inesquecível artista de Portugal e do Brasil (2012), Dar a Ver e a se Ver no Extremo – O Poeta e a Poesia de João Cabral de Melo Neto (2014).
Miguel Sanches Neto
Doutor pela Unicamp (1998) e professor-associado na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), onde atua no Programa de Pós-Graduação em Linguagem, Identidade e Subjetividade. Autor de mais de 30 livros, como os romances Chove sobre minha infância (2000), Um amor anarquista (2005) e A máquina de madeira (2012), traduzidos para o espanhol e para o francês. Acaba de lançar o romance de história alternativa A segunda pátria (2015), nascido da seguinte hipótese: e se Getúlio Vargas tivesse apoiado Hitler na Segunda Guerra Mundial? Recebeu, entre outros, o Prêmio Cruz e Sousa (2002) e Binacional das Artes e da Cultura Brasil-Argentina (2005).
Está vinculado ao CEHUM / Universidade do Minho como pesquisador em Estágio Sênior da Capes, com um projeto de investigação no âmbito da temática deste curso.
Roberto Loureiro
Investigador do Projecto Figuras da Ficção, dirigido pelo Prof. Carlos Reis (FLUC). Mestre em Literatura Portuguesa pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e licenciado em Jornalismo pela Universidade Gama Filho. Entre 2007 e 2013 fez parte do Polo de Pesquisa Luso-Brasileiro do Real Gabinete Português de Leitura dirigido pela Prof.ª Gilda Santos. Foi professor de Teoria Literária, Estudos Literários e Literatura Portuguesa na Faculdade de Formação de Professores da UERJ e da extinta Faculdade CCAA (RJ). Atualmente na Universidade de Coimbra (bolseiro pela CAPES).