No presente curso procurar-se-á ponderar sobre o género da biografia, seja na dimensão da representação de vidas de personalidades mais ou menos famosas ou exemplares, seja na dimensão da ficcionalização ou até pura invenção.
Objectivos
Curiosamente, o género de biografia e, mais interessante ainda, o da hagiografia é um denominador comum dos dois escritores que, à primeira vista, não parecem ter nada em comum.
Eça desde cedo integra o discurso biográfico ou necrológico na sua escrita, vidas de poetas e políticos ou até de gatos, finge o grande Carlos Fradique Mendes, já com o objetivo de (re)inventar vidas contra a decadência, cingindo-se, finalmente, à (re-)escrita de Vidas de Santos. Na obra de Teixeira de Pascoaes, S. Paulo (1934) representa a primeira e, sem a menor dúvida, a mais conhecida das suas biografias romanceadas que igualmente procuraram dar respostas perante um estado social e político considerado decadente.
Há 50 anos, Jorge de Sena era um dos poucos que fez a contextualização comum de Eça e Pascoaes, ao escrever que
A Europa em que Teixeira de Pascoaes nasceu em 1877 é a que (…) consegue um equilíbrio competitivo das classes dirigentes aristocrático-burguesas, igualmente irmanadas numa civilização elegante e colonialista, que será, até à Guerra Mundial de 1914-18, a Belle Époque. (…) É a Europa que Eça de Queirós, que morre em 1900 quando Teixeira de Pascoaes atingiu já a sua personalidade original, considera com certa ironia, (…). À região nortenha e serrana em que Pascoaes nasceu e onde passou a meninice, tudo isso chegava com atraso, pelos jornais, em raros livros, e coado pelas perspetivas da grande cidade mais próxima que era o Porto (…).
Discutir o género da biografia neste contexto significa também revisitar questões de cosmopolitismo e provincianismo da vida intelectual de um país chamado semi-periférico no âmbito da Europa que Eça já em 1888 considerava «em crise».
Recomenda-se uma leitura prévia de Vidas de Santos e da biografia São Paulo. Conforme as abordagens dos docentes, outros textos dos dois autores serão objetos de análise.
Programa
De 14 a 16 de Julho
Sede da FEQ – Tormes
09h30/11h00 – 1ª sessão de trabalho
Intervalo para café
11h30/13h00 – 2ª sessão de trabalho
Intervalo para almoço
14h30/17h00 – 3ª sessão de trabalho
Dia 17 e 18 de Julho
Casa das Artes – Amarante
09h30/11h00 – 1ª sessão de trabalho
Intervalo para café
11h30/13h00 – 2ª sessão de trabalho
Intervalo para almoço
14h30/17h00 – 3ª sessão de trabalho
No dia 14 de Julho visita guiada à Casa de Tormes.
No dia 18 de Julho visita à Casa de Teixeira de Pascoaes em Amarante.
Coordenação Científica
Prof. Orlando Grossegesse
(Coord. Ciências da Literatura do CEHUM / ILCH – Universidade do Minho)
Cursou Filologias Românicas e Comunicação Social na Universidade de Munique: após o Magister Artium (M.A.) em 1986, doutorou-se em 1989 com uma tese sobre a relação entre conversação e discurso literário na obra queirosiana, publicada sob o título Konversation und Roman. Studien zum Romanwerk von Eça de Queiroz (Stuttgart: Franz Steiner 1991). Desde 1990 é docente da Universidade do Minho, a partir de 2004 como Professor Associado, nas áreas de Literatura e Cultura Alemãs e Comparadas, Tradução e Comunicação Multilingue. Estudos no âmbito das Filologias Alemã, Portuguesa, Espanhola e Comparada, com mais de 80 artigos em revistas e atas de congressos e colóquios.
Publicação em livro mais relevante, para além da tese de doutoramento: Saramago lesen. Werk – Leben – Bibliographie (Berlin: edition tranvía 1998; 2ª ed. ampliada e atualizada 2009). Atas de colóquios e congressos (organizadas ou co-organizadas), entre outras: «O estado do nosso futuro». Brasil e Portugal entre identidade e globalização (Berlin: edition tranvía 2004) e, recentemente, com Henry Thorau, À procura da Lisboa africana, Braga: CEHUM 2009 (Col. Hespérides 24). Membro do Conselho Cultural da Fundação Eça de Queiroz (FEQ); org. de duas edições da Queirosiana (15-17; 18-20), dedicadas à receção e tradução da obra queirosiana.
Professores Convidados
Antonio Augusto Nery
Doutor em Letras (Literatura Portuguesa) pela Universidade de São Paulo (USP), é Professor de Literatura Portuguesa na Graduação e na Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Desde a Graduação dedica-se aos estudos da obra de Eça de Queirós, com atenção especial aos temas religiosos presentes na produção do escritor.
Desenvolveu a dissertação de Mestrado Santidade e Humanidade: aspectos da temática religiosa em obras de Eça de Queirós (2005) e a tese de Doutorado Diabos (diálogos) intermitentes: individualismo e crítica à Instituição religiosa em obras de Eça de Queirós (2010), trabalhos nos quais analisou diversas narrativas queirosianas.
Possui vários artigos críticos publicados em Livros, Revistas e Atas de eventos, entre os quais: Eça de Queirós por António Cândido: “Entre campo e cidade” (2007); Bíblia, história e ficção: a intertextualidade no terceiro capítulo de A relíquia (2009); Eça de Queirós e o diálogo com exegetas do Evangelho (2009); Eça de Queirós por António José Saraiva: Ideias e Ideais (2010); São Cristóvão (Eça de Queirós): santidade e crítica social (2011); Eça de Queirós versus Papa Leão XIII: questões alimentares (2012); O “Mefistófeles” de Eça de Queirós (2012); As personagens em A segunda vida de Francisco de Assis (José Saramago) (2012); Romantismos, Realismos e Anticlericalismos em Amor de perdição (Camilo Castelo Branco) (2013); e São Frei Gil (Eça de Queirós): entre a santidade e a “ambição de tudo saber” (2013).
Paulo Motta Oliveira
Professor Associado da Universidade de São Paulo (USP) e bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Faz parte do projeto temático “Circulação Transatlântica dos Impressos – a globalização da cultura no século XIX” financiado pela FAPESP. É membro da Comissão Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da USP.
Concluiu o doutorado em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas em 1995. Realizou quatro pós-doutorados, todos com apoio da FAPESP: três de curta duração – de 3 a 4 meses – dois na Universidade de Lisboa e um na Université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines, e um quarto, de janeiro de 2013 a janeiro de 2014, na Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3.
Defendeu a livre-docência em Literatura Portuguesa na Universidade de São Paulo em 2006. Foi professor convidado da Université Lyon 2 em 2006. Foi Presidente da Associação Brasileira de Professores de Literatura Portuguesa no biênio 2005-2007.
Pesquisa, principalmente, a literatura portuguesa do século XIX e do início do XX, bem como as relações entre esta e outras literaturas do período, em especial as literaturas de língua portuguesa e a literatura francesa. Trabalhou em seu mestrado com as biografias de Teixeira de Pascoaes e em seu doutorado com a segunda série de A Águia.
Sérgio Paulo Guimarães de Sousa
Doutorado em Literatura Portuguesa, é Professor de Literatura Portuguesa na Universidade do Minho, onde dirige o Mestrado em Mediação Literária e Cultural. Foi Professor Visitante na Universidade de São Paulo, na Université Blaise-Pascal e na Brown University.
Para além de diversos artigos em revistas da especialidade e de participar em vários colóquios e congressos, é autor ou coautor das obras Matéria de Leituras. Recepção, Hermenêutica, Cinema (2000), Teoria Breve da Literatura Infantil (2000), Relações Intersemióticas entre o Cinema e a Literatura (2001) e Literatura & Cinema (2003); e é co-autor das obras Ensaios Garrettianos (2001), Crimes (Eco)lógicos. Natureza e Cultura nos Policiais de Tony Hillerman (2003), Último Eça, O Romance & O Mito, (2001, 2.ª ed.: 2003), Dicionário da Obra de António Lobo Antunes, 2 vol.s (2008); e coorganizador dos livros: Transversalidades: Literatura/Cinema/Viagens (2009), Leituras do Desejo em Camilo Castelo Branco (2010), Estética e Ética em Sá de Miranda (2011), As Novas Tecnologias e a Literatura Infantil e Juvenil – cenários e desafios (2012); Figuras do Herói. Literatura, Cinema, Banda Desenhada (2013); O Imaginário das Viagens. Literatura, Cinema, Banda Desenhada (2014); e organizador do volume Representações do feminino em Camilo Castelo Branco (2014).
É ainda responsável pela fixação de texto de diversas narrativas camilianas: Livro de Consolação (2006), Livro Negro de Padre Dinis (2007), História de uma Porta (2009), Memórias do Cárcere (2011), Vida de José do Telhado (2013). E ainda selecionou, fixou e prefaciou um livro de contos de Tomaz de Figueiredo: O Homem Que Sonhou (2012).
Recebeu os seguintes prémios: Prémio Engenheiro António de Almeida (1996) e Prémio Literário Júlio Brandão/97 (na categoria de Ensaio).