Nos textos do jovem Eça, o Mal tem um lugar de destaque, não só como tema mas também como questão da própria escrita. Basta pensar nos folhetins publicados na Gazeta de Portugal (1866-67).
Introdução e Objectivos
Nos textos do jovem Eça, o Mal tem um lugar de destaque, não só como tema mas também como questão da própria escrita. Basta pensar nos folhetins publicados na Gazeta de Portugal (1866-67). Para além de “O Senhor Diabo”, títulos como “Poetas do Mal” ou “Memórias de uma forca” são elucidativos e levam-nos a intuir o efeito de choc num público não habituado a uma nova estética exemplarmente realizada em Les Fleurs du Mal (1857) de Baudelaire. Não é fácil estabelecer um nexo entre estes breves textos em prosa e verso com a posterior evolução do romancista do Realismo / Naturalismo, sendo a introdução de Jaime Batalha Reis às Prosas Bárbaras (1903) uma referência quase obrigatória.
Para Batalha Reis, as palavras do próprio mestre, proferidas em 1891, quando este lhe anunciou que estava “escrevendo a vida diabólica e milagrosa de S. Frei Gil”, confirmam um regresso aos inícios do “velho fantástico da Gazeta de Portugal”, só que “em prosa talvez menos bárbara que a desses longínquos tempos”.
A crítica de cariz biografista nutriu esta ideia de regresso ao diabólico e santo de raiz autóctone, um regresso à tradição do milagroso, de certa forma ‘purificador’, o que, aliás, se coaduna com as leituras mais reacionárias de suas obras semi-póstumas e póstumas em geral, para além das Lendas de Santos. De acordo com esta visão, o trajeto final da estética queirosiana configuraria um abandono do paradigma do Realismo / Naturalismo. Na realidade, esse paradigama nunca teve atracção absoluta para o autor, nem homogeneidade de escrita. Rejeitando qualquer simplificação da complexa cultura literária na segunda metade do século XIX, esta edição do Seminário Queirosiano Internacional empreende uma revisitação crítica de modelos de rutura e continuidade na evolução estética e ideológica de Eça de Queiroz, relativamente às expressões, figurações e funcionalidades do Bem e do Mal, do Diabólico e do Divino, a partir de abordagens variadas.
Públicos/Formato
O Seminário Internacional Queirosiano destina-se a todos os interessados na obra queirosiana e na área cultura / literatura / media, nomeadamente a professores (sobretudo, Ensino Secundário), estudantes universitários nacionais e internacionais (graduação e pós-graduação), estudiosos e pesquisadores nas áreas de Ciências de Comunicação, Estudos Culturais e Literários, Turismo Literário.
O formato do Seminário Internacional Queirosiano corresponde a um padrão, com uma tradição consolida desde 1998. Vd. as temáticas das últimas edições: Atividades
Com cada edição, as temáticas e as leituras recomendadas variam.
Leituras recomendadas
- Prosas Bárbaras (= reed, dos folhetins nos jornais Gazeta de Portugal e Revolução de Setembro); o conto “O réu Tadeu”.
Recomenda-se o volume Contos I (ed.: Marie-Hélène Piwnik) da Ed. crítica das Obras de Eça de Queirós, Lisboa: IN-CM, 2009. <https://www.uc.pt/fluc/clp/pub/liv/liv29> - O Crime do Padre Amaro; O Mandarim; A Relíquia; “Um génio que era um santo”; Lendas de Santos.
Sempre quando possível se dará preferência aos volumes da Ed. crítica das Obras de Eça de Queirós (coord. Carlos Reis), Lisboa: IN-CM.
Coordenação Científica
Orlando Grossegesse
Professor associado da Universidade do Minho. Desde 1990 é docente / investigador nas áreas de Literatura e Cultura Alemãs e Comparadas, Tradução e Comunicação Multilingue. Desde 2004 também ensina Estudos Queirosianos, com orientação de mestrados e doutoramentos. Estudou Filologias Românicas e Comunicação Social na Universidade de Munique onde se doutorou em 1989 com uma tese sobre a relação entre conversação e discurso literário na obra queirosiana, publicada sob o título Konversation und Roman (1991). Publicou numerosos estudos no âmbito das Filologias Alemã, Portuguesa, Espanhola e Comparada.
Para além da tese de doutoramento, as publicações em livro mais relevantes são: Saramago lesen. Werk – Leben – Bibliographie (1998; 2ª ed. ampliada e atualizada 2009); atas de colóquios e congressos (organizadas ou co-organizadas), entre outras: «O estado do nosso futuro». Brasil e Portugal entre identidade e globalização (2004); com Henry Thorau, À procura da Lisboa africana (2009); com Mário Matos, Mnemo-Grafias Interculturais (2012). Diretor adjunto da Queirosiana (org. das últimas cinco edições: 15-17; 18-20; 21/22; 23/24; 25/26). Membro do Conselho Administrativo e da Comissão Coord. do Conselho Cultural da FEQ. Desde 2013 coordena os Seminários Internacionais Queirosianos. Fundou em 2016 o Centro de Estudos de Tradução (CET-Tormes) associado à FEQ.
Professores Convidados
Antonio Augusto Nery
Doutor em Letras (Literatura Portuguesa) pela Universidade de São Paulo (USP), Pós-Doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de Coimbra, é Professor na Graduação e na Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, Paraná, Brasil. Actualmente é bolseiro do Programa Institucional de Internacionalização (CAPES/PRINT/UFPR) na Universidade de Lisboa. Desde a Graduação dedica-se aos estudos da obra de Eça de Queiroz, com atenção especial aos temas religiosos presentes na produção do escritor.
Desenvolveu a dissertação de Mestrado Santidade e Humanidade: aspectos da temática religiosa em obras de Eça de Queiroz (2005) e a tese de Doutorado Diabos (diálogos) intermitentes: individualismo e crítica à Instituição religiosa em obras de Eça de Queirós (2010), estudos nos quais analisou diversas narrativas queirosianas. Pesquisa e orienta trabalhos sobre a Literatura Portuguesa produzida no século XIX e na contemporaneidade, além dos diálogos desta com a Literatura Brasileira e outras Literaturas. Também investiga a relação entre Literatura e Religião.
Dentre os seus principais interesses de pesquisa estão as obras de Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco e José Saramago. É pesquisador do Grupo Eça, Grupo de Pesquisa CNPq vinculado ao Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da USP. Em 2014, foi docente do Curso de Verão da FEQ, De Eça de Queiroz à Teixeira Pascoaes: (re) inventar vidas contra a decadência.
Silvio Cesar dos Santos Alves
Pós-Doutorado em Letras (2017), Doutorado em Literatura Comparada (2013) e Mestrado em Literatura Portuguesa (2008), pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É autor da Tese de Doutorado Os paradoxos do niilismo em Antero de Quental, Eça de Queirós e Cesário Verde (2013), e da Dissertação de Mestrado Repensando o São Cristóvão no conjunto da obra queirosiana (2008). Desde 2015, é Professor Adjunto de Literatura Portuguesa da Universidade Estadual de Londrina (UEL), tendo ingressado como docente no Programa de Pós-Graduação em Letras dessa universidade (PPGL-UEL) em 2018. Como pesquisador tem como principal objecto de investigação a Literatura Portuguesa da segunda metade do século XIX e inícios do XX, com concentração nos autores Eça de Queiroz, Antero de Quental e Cesário Verde. Coordena o Projeto de Pesquisa UEL ─ O ceticismo na ficção queirosiana.
Lidera o Grupo de Pesquisa CNPq ─ Cenáculo: Fluxos e afluxos da Geração de 70, vinculado ao Centro de Letras e Ciências Humanas da UEL. É pesquisador do Grupo Eça, Grupo de Pesquisa CNPq vinculado ao Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da USP; e do Grupo de Pesquisa CNPq ─ Ética, Estética e Filosofia da Literatura, vinculado à Universidade Federal de Rondônia. Em 2009, frequentou, como bolseiro, o Curso de Verão da FEQ, Eça – A Modernidade e o Modernismo.
Irene Fialho
Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas e Mestre em Literaturas Comparadas. Tem-se dedicado ao estudo da obra de Eça de Queiroz com especial incidência nos manuscritos do autor. Desta tarefa resultaram os volumes de edição crítica Alves & Cia. (1994), Almanaques e outros dispersos (2011), e A correspondência de Fradique Mendes (2014), tendo em finalização O conde de Abranhos, todos eles publicados pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Co-editou genéticamente o manuscrito inédito de A Ilustre Casa de Ramires (Esfera do Caos, 2016). Para a editorial Caminho organizou e prefaciou, em 2012, a nova edição de Eça de Queiroz entre os seus.
Foi assessora para as Comissões Nacional e Executiva das Comemorações do Centenário da Morte de Eça de Queirós (2000-2001). Na Biblioteca Nacional publicou a transcrição do manuscrito «Almanaques» (2001) e um estudo arquivístico e filológico sobre as «Aquisições Queirosianas» do Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea (2007). Da sua actividade de investigação resultou a descoberta e publicação de cinco textos inéditos de Eça de Queiroz (in Almanaques e outros dispersos), da opereta A Morte do Diabo (Caminho, 2013) e Eça de Queiroz em Casa (Presença, 2016). Administradora para a Cultura da Fundação Eça de Queiroz desde 2010 e membro do Conselho Cultural da mesma Fundação desde 2002.