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Luís Santos Ferro (1939-2020), engenheiro de formação, melómano exímio, dedicou a vida ao estudo de Eça de Queiroz, sendo autor de diversos artigos sobre o tema. A paixão duradoura por Eça levou-o a reunir as primeiras edições, bem como todas as publicações em vida do autor de Os Maias, além de manuscritos, revistas, estudos académicos, opúsculos, traduções, curiosidades bibliográficas, fotografias, documentos, objectos artísticos, etc. Trata-se de um rico acervo distribuído por 35 metros lineares em mais de mil entradas bibliográficas, não contando com os periódicos e demais monografias e recortes.
Aquando da sua morte, em Janeiro de 2020, a Família não quis dividir uma queirosiana que foi pensada como um todo e que configura o projecto de uma vida, tendo-a doado à Fundação Eça de Queiroz. Numa das salas de Tormes, ao lado do quarto que abriga os objectos pessoais dos aposentos do próprio escritor, está agora instalado o Núcleo Luís Santos Ferro.
Este acervo encontra-se disponível para consulta, mediante marcação prévia e conforme regulamento interno de utilização do Arquivo da Fundação Eça de Queiroz (disponível aqui).
A Fundação Eça de Queiroz agradece à Família a doação e convida todos os interessados a consultarem o Núcleo Luís Santos Ferro.
Alguns dos livros, documentos e manuscritos que integram o acervo documental do núcleo:
Luís Eduardo de Oliveira dos Santos Ferro nasceu em Lisboa em 12 de Julho de 1939 e licenciou-se em Engenharia Química e Industrial pelo Instituto Superior Técnico em 1962.
Não se confinavam, porém, à área da engenharia os seus interesses intelectuais. Desde cedo soube conciliá-los com os estudos e, mais tarde, com a profissão de engenheiro químico, que exerceu durante mais de duas décadas.
Bom exemplo de tal sábia conciliação sucedeu quando, em 1960, tinha ele vinte anos, estudante de química que estagiava em Paris, «teve a natural desenvoltura de aparecer» no atelier de Maria Helena Vieira da Silva, que não conhecia pessoalmente, «situação inicial e iniciática, nascer de amizade, intacta até ao fim».
Num outro registo, ligado a um domínio que sempre lhe foi muito caro, passou a integrar, ainda estudante, a Juventude Musical Portuguesa, de que foi depois Secretário-Geral entre 1963 e 1975, sob a presidência de João de Freitas Branco, de quem foi grande amigo. No seu amor pela música radica também o amistoso relacionamento que manteve até ao fim com a Marquesa de Cadaval, que lhe facultou o convívio com alguns dos maiores músicos do seu tempo.
A música foi de facto uma das suas duas maiores paixões. A par desta, só outra: tudo o que se relacionava com a obra, a vida e a personalidade de Eça de Queiroz.
A sua primeira visita à Casa de Tormes, onde vivia a filha do escritor, D. Maria Eça de Queiroz de Castro, data de 1961. A sua frequência de Tormes foi regular até ao falecimento, em 1970, de D. Maria Eça de Queiroz de Castro, com assídua troca de correspondência. Posteriormente acompanhou o projecto de os herdeiros criarem a Fundação Eça de Queiroz (1972-1992), tendo continuado todos os anos a passar uma semana de férias em Tormes até 2014.
Ao mesmo tempo, foi reunindo na sua biblioteca pessoal edições raras, manuscritos, primeiras edições, traduções, livros e opúsculos que se publicaram sobre Eça de Queiroz. Publicou artigos e proferiu conferências queirosianas em Portugal e no estrangeiro.
Empenhou-se na bem-sucedida iniciativa de colocação de uma placa comemorativa na casa da Rue Charles Laffitte, 32, Neuilly-sur-Seine, Paris, onde Eça de Queiroz viveu entre 1891 e 1893. Conviveu com outros grandes queirosianos do seu tempo como, entre outros, Ernesto Guerra da Cal.
Foi membro da Comissão Executiva para a Comemoração do Centenário da Morte de Eça de Queiroz.
Tendo aderido ao Grémio Literário em 1971 e integrado o seu Conselho Literário desde 1995 até à sua morte, foi coordenador, em 2000/2001, do programa de conferências com que aquela agremiação comemorou o Centenário da Morte de Eça de Queiroz.
Segundo Francisco Seixas da Costa, Luís Santos Ferro ter-lhe-á confidenciado um dia que «foi o Eça quem me trouxe para o Grémio. Só estou cá por causa dele».
A sua dupla paixão por Eça e pela música cruzou-se naturalmente e frutificou em diversas intervenções de que se destacam o artigo sobre Música no Dicionário de Eça de Queiroz, organizado e coordenado por Alfredo Campos Matos, e as conferências, em Lisboa e Paris, com o título «Música e simbolismo musical nos Romances de Eça de Queiroz», conjuntamente com José Blanco.
Luís Santos Ferro demonstrou que as referências musicais na obra de Eça – em especial na obra romanesca – não são um «mero elemento decorativo, acessório ou supérfluo na composição», mas antes factores de qualidade, reunindo «componentes atentamente doseadas e preenchendo função específica, ponderada, de efeito sabiamente calculado».
Novembro de 1985 foi o termo – Luís Santos Ferro não o sabia, então – da sua actividade profissional enquanto engenheiro. A partir dessa altura, ocupou-se, durante cerca de um ano, da chefia do Gabinete da Secretária de Estado da Cultura, Teresa Patrício Gouveia, tendo tido papel relevante na criação da chamada «Lei do Mecenato».
No final de 1986, passou a exercer funções na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, de início como director do departamento cultural (1986-2007) e por último como conselheiro para assuntos culturais (2008-2020).
«Com certa alegria verifico hoje que não foi desastrado o novo caminho, entendendo que a engenharia e a vida são grandes cursos», afirmou anos mais tarde numa retrospectiva do seu percurso profissional.
Na faceta cultural da sua actividade, que o ocupou em exclusividade a partir de 1985, Luís Santos Ferro foi também Presidente da Comissão de Fiscalização do Teatro Nacional de S. Carlos, EP (1980-93), Presidente do Conselho Fiscal da Fundação do Mecenato Cultural do Teatro Nacional de S. Carlos (1990-1991), Membro do Conselho de Administração da Culturgest (1993-2008), e Membro do Conselho Fiscal (1992-2008) e do Conselho de Administração (2008) da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, sendo autor de vários artigos e intervenções sobre questões de cultura e gestão cultural.
Foi agraciado com o grau de Grande Oficial da Ordem do Rio Branco (Brasil).
Toda esta intensa actividade nunca deixou de ser acompanhada pela constante dedicação ao estudo da vida e obra de Eça de Queiroz, tendo-se tornado um dos mais destacados queirosianos.
Citando novamente Seixas da Costa, «Luís Santos Ferro era a boa disposição feita em pessoa. Divertido, com histórias magníficas, amigo do seu amigo, sempre disponível, com uma cultura multifacetada».
Ajustam-se-lhe bem as palavras, por ele próprio citadas referindo-se ao seu grande amigo João de Freitas Branco, caracterizado depois da sua morte por António Alçada Baptista como alguém que soube «aproximar-se do mundo e dos outros com uma delicadeza e amabilidade que tornavam melhor o tempo vivido à sua volta».
Luís Santos Ferro morreu em Lisboa a 27 de Janeiro de 2020.
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