O Escritor

CRONOLOGIA

EÇA DE QUEIROZ – CRONOLOGIA

Ano
1845  Nascido na Póvoa do Varzim (25 de Novembro de 1845), Eça de Queiroz é filho natural do magistrado José Maria de Almeida Teixeira de Queiroz e D. Carolina Augusta Pereira de Eça, não sendo casados. Mal nasce, o bebé é entregue aos cuidados de uma ama-de-leite, Ana Joaquina Leal de Barros, que virá também a ser a sua madrinha de baptismo, em Vila do Conde, de onde sairá para viver até 1849 em Verdemilho, em casa dos avós paternos, apesar de o casamento dos seus pais se ter realizado quatro anos depois do seu nascimento. O romancista desenvolveu a sua vida literária entre meados dos anos 1860 e 1900, quando, a 16 de Agosto, morreu em Paris. Nesse lapso temporal, Eça marcou a cena literária portuguesa com uma produção de alta qualidade, parte dela deixada inédita à data da sua morte…
1855  É matriculado no Colégio da Lapa, na cidade do Porto, dirigido pelo pai de Ramalho Ortigão. Aí fará a escolaridade obrigatória até ao seu ingresso na Universidade. Conhecerá, também, neste colégio os irmãos Resende, Luís e Manuel, que virão a ser seus futuros cunhados.
1861  Matricula-se no primeiro ano da Faculdade de Direito de Coimbra, onde conheceu Teófilo Braga e Antero de Quental, entre outros, que viriam mais tarde a constituir o grupo de intelectuais celebremente conhecido como «Geração de 70». É neste meio universitário que surgem os primeiros escritos jornalísticos.
1866  Envia ao Teatro Nacional D. Maria II a tradução de uma peça de José Bouchardy, intitulada Philidor. Forma-se em Direito e instala-se em Lisboa, em casa dos pais, no Rossio, 26, 4º andar, inscrevendo-se como advogado no Supremo Tribunal de Justiça. Inicia a publicação de folhetins no jornal Gazeta de Portugal num total de dez artigos que serão reunidos no volume «Prosas Bárbaras», em 1909. Conhece Jaime Batalha Reis na redacção da Gazeta de Portugal. Parte para Évora no final do ano, onde irá fundar e dirigir o jornal da oposição Districto de Évora.
1867  Inicia a sua actividade como advogado. Em Julho deixa a direcção do Districto de Évora, regressa a Lisboa e retoma a sua colaboração na Gazeta de Portugal de Outubro a Dezembro. No final do ano forma-se o «Cenáculo», contando-se Eça de Queiroz entre os primeiros membros, do qual farão parte, também, Antero de Quental, Salomão Saragga, Jaime Batalha Reis, Augusto Fuschini, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, José Fontana, entre outros.
1869  São publicados, no jornal Revolução de Setembro, os primeiros versos de Carlos Fradique Mendes, «Serenata de Satã às Estrelas», criação conjunta de Eça, Antero e Batalha Reis. Viagem pela Palestina, Síria e Egipto, onde assiste à inauguração do Canal de Suez em companhia de Luís de Castro, conde de Resende.
1870  Regressado a Lisboa, publica no Diário de Notícias os relatos da viagem ao Médio-oriente com o título «De Port-Said a Suez». Publicação no mesmo jornal de «O Mistério da Estrada de Sintra», em colaboração com Ramalho Ortigão (de Julho a Setembro). É nomeado Administrador do Concelho de Leiria. Em Setembro presta provas para cônsul de 1ª classe no Ministério dos Negócios Estrangeiros, ficando classificado em primeiro lugar.
1871  É publicado o primeiro número d'«As Farpas» dirigido por Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão. Realizam-se as Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, não se tendo cumprido a totalidade do programa previsto devido à proibição governamental ter impedido a sua continuação. Eça profere a quarta conferência intitulada «A Nova Literatura ou O Realismo como Expressão de Arte».
1872  É nomeado cônsul de 1ª classe nas Antilhas espanholas. No final do ano será empossado no seu cargo em Havana, aí permanecendo durante dois anos. Neste período interessa-se pela causa dos coolies (chineses oriundos de Macau), que viviam uma situação muito semelhante à de escravatura nas plantações da cana-de-açúcar.
1873  Viagem pelo Canadá, Estados Unidos e América Central, fruto da licença solicitada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, para se ausentar das Antilhas, por ocasião das febres nos meses do Estio. Este périplo surge não só por preceito médico mas com o intento de privar com as duas americanas, Mollie Bidwel e Anna Conover, que conhecera em Cuba.
1874  Publicação do conto «Singularidades de Uma Rapariga Loura» no Brinde aos senhores assinantes do Diário de Notícias para 1873. Transferência para o consulado de Newcastle-upon-Tyne. Eça não gosta da cidade porque o impalpável – spleen – habita em todo o sítio e em toda a pessoa, por isso dedicar-se-á inteiramente à escrita. Este é o seu período mais produtivo.
1875  Publicação na Revista Ocidental, dirigida por Antero de Quental e Jaime Batalha Reis, da primeira versão de «O Crime do Padre Amaro», entre 15 de Fevereiro e 15 de Maio de 1875, num total de 7 fascículos. Conclusão da escrita de «O Primo Basílio», em Newcastle.
1877  Publicação no jornal portuense A Actualidade das crónicas «Cartas de Inglaterra», mantendo-se a colaboração até 21 de Maio de 1878, pelo preço de 7 libras mensais, em que faz um retracto da sociedade inglesa e dos grandes acontecimentos da época. Inicia a escrita de «A Capital!», publicada vinte e cinco anos após a sua morte.
1878  Contactos com o editor Chardron apresentando «Cenas da Vida Portuguesa», projecto para 12 volumes de novelas. É publicado «O Primo Basílio», numa edição de 3.000 exemplares que esgota rapidamente, tendo no mesmo ano saído a público uma segunda edição, ilustrada com fotografia do autor. Por decreto de 30 de Julho, é transferido para o consulado de Bristol.
1879  Escreve em Dinan (França) «O Conde de Abranhos», que ficará inédito até 1925. Surge, ainda, o importante texto «Idealismo e Realismo» para servir de prefácio à 2ª edição refundida de «O Crime do Padre Amaro». De 30 de Setembro a 20 de Outubro, Eça de Queiroz permanece em Angers onde se faz fotografar com uma jovem senhora, juntamente com o seu irmão Alberto. Dela nada se sabe ainda – nome, família ou origem – pelo que até hoje continua a ser a "Bela Desconhecida".
1880  Segunda edição em livro de «O Crime do Padre Amaro». Publicação da novela «O Mandarim» em folhentins do Diário de Portugal. Publicação dos contos «Um Poeta Lírico» e «No Moinho», em O Atlântico. Inicia a sua colaboração com um jornal do Rio de Janeiro, a Gazeta de Notícias, que só terminará em 1897.
1882 Entre Maio e Junho Eça está novamente em Angers. O escritor usualmente hospedava-se no Hotel du Cheval Blanc, n.º 12 da Rue Saint-Aubin, a dois passos da catedral. Em Julho regressa ao consulado de Bristol.
1883  É eleito sócio correspondente da Academia Real das Ciências. Reescreve «O Mistério da Estrada de Sintra». Nos meses de Abril, Maio e Julho, Eça permanece em Portugal. Numa destas estadias visita Antero de Quental, em Vila do Conde, juntamente com os amigos António Feijó, D. José da Câmara e Luís de Magalhães.
1884  Entre Março e Maio a correspondência comprova-nos a permanência de Eça em Angers. Após este período encontramos um Eça "sensaborão" e à procura de uma «criatura ideal». Em Julho e Agosto está em Portugal e faz-se fotografar no Palácio de Cristal, no Porto – Grupo dos cinco. Em Outubro visita a Costa Nova na companhia da condessa de Resende e das suas filhas Emília e Benedita. Publicação na Revue Universelle Internationale da tradução francesa de «O Mandarim», com um prefácio de Eça, escrito em francês. Segunda edição de «O Mistério da Estrada de Sintra».
1885  Visita Zola em Paris na companhia do jornalista Mariano Pina. Mais tarde dirá a Emília de Castro que Zola terá exclamado ao vê-lo: «Eh quoi, c'est vous! Mais vous êtes un enfant!». Eça encontra a «criatura ideal» na figura de Emília de Castro, com o auxílio do antigo companheiro do colégio da Lapa, Manuel de Castro, pedindo a sua mão à condessa de Resende a 30 de Agosto. A sua legitimação é tornada oficial pelos pais a 23 de Dezembro.
1886  Casamento com Emília de Castro Pamplona (Resende), a 10 de Fevereiro, no oratório particular da Quinta de Santo Ovídio, no Porto. Foram seus padrinhos: Ramalho Ortigão e Manuel de Castro. Regressa a Bristol via Madrid e Paris, já acompanhado da sua jovem esposa. Prefacia os livros «Azulejos» do conde de Arnoso e «O Brasileiro Soares» de Luís de Magalhães.
1887  Nascimento de Maria, primeiro filho, no solar de Santo Ovídio, no Porto, a 16 de Janeiro. Concorre com «A Relíquia» ao Prémio D. Luís da Academia Real das Ciências, perdendo a favor de Henrique Lopes de Mendonça com a obra «O Duque de Viseu». Publicação de «A Relíquia», em livro, pela casa Chardron e da 3.ª edição de «O Primo Basílio». Presumível ano de redacção do importante artigo «O Francesismo», segundo Guerra da Cal.
1888  Nasce, em Londres, José Maria, o segundo filho do romancista, a 26 de Fevereiro. A 28 de Agosto, Eça é nomeado cônsul em Paris, mas só toma posse oficial do cargo a 20 de Setembro. Polémica com Pinheiro Chagas a propósito da atribuição do Prémio D. Luís. Publicação de «Os Maias», com uma tiragem de 5000 exemplares. Publicação no jornal portuense O Repórter, dirigido por Oliveira Martins, de algumas «Cartas de Fradique Mendes». Forma-se em Lisboa o grupo d'«Os Vencidos da Vida».
1889  Prefacia o livro de poemas «Aguarelas» de João Dinis. Sai o primeiro número da Revista de Portugal, de que é director. Vem de férias a Portugal com a família, entre Fevereiro e Maio. Neste período janta com os «Vencidos da Vida», a 26 de Março. A 18 de Julho visita, com Jaime Batalha Reis, a casa de Victor Hugo. A 27 de Agosto sobe com o Príncipe D. Carlos à Torre Eiffel, por ocasião da exposição universal de Paris. Em fins de Setembro, Emília Pardo Bazán entrevista Eça em Paris. Nasce em Paris António, o terceiro filho do casal, a 30 de Dezembro.
1890  A 28 de Janeiro morre, no Porto, a Condessa de Resende, sogra de Eça. Em Fevereiro publica na Revista de Portugal o importante artigo sobre o “Ultimatum”. Publicação do primeiro volume de «Uma Campanha Alegre», pelo editor Corazzi, reunindo a colaboração de Eça n'As Farpas. Entre Março e Julho Eça encontra-se em Portugal para tratar de assuntos referentes a partilhas, determinadas pelo falecimento da sogra. A 25 de Abril estreia do drama, em quatro actos, baseado n’«O Crime do Padre Amaro», no Rio de Janeiro, que viria a ter mais de quarenta representações.
1891  Traduz «As Minas de Salomão», de Henry Rider Haggard. Neste ano surge a 2ª edição de «A Relíquia». A 6 de Abril nasce Alberto, o quarto e último filho do casal. Em carta a Oliveira Martins (23 Jul.) dá fé do «Flos Sanctorum em que ando mergulhado» e começa a escrever narrativas sobre vidas de santos, primeiro sobre «S. Frei Gil», ao mesmo tempo que se dedica a burilar os contos que viria a publicar nos subsequentes anos. Em Novembro, Eça desloca-se a Londres, em missão diplomática, para tratar de uma questão dos caminhos-de-ferro e hospeda-se no Savoy Hotel.
1892  Em fins de Maio Eça visita, com a cunhada Benedita, Beire e Santa Cruz do Douro, que virá a ser a Tormes de «A Cidade e as Serras». A 17 de Julho comunica a Oliveira Martins que Emídio Navarro lhe trouxera uma mesa de espiritismo, depois das sessões que haviam feito em Neuilly e das quais havia participado. Publicação do conto «Civilização», na Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro e das novas «Cartas de Fradique Mendes».
1893  Publica na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro a Crónica «Tema para Versos», que inclui o conto «A Aia» e a crónica «Positivismo e Idealismo». Em 15 de Julho escreve à mulher referenciando as conversas com o inventor Luís Serra, com quem virá a fazer uma sociedade e a quem adiantará dinheiro. Começa a escrever «A Vida de Santo Onofre». Eça deixa a residência da Rue Charles Laffitte, 32, e vai morar para Avenue du Roule, 38, também em Neuilly. Será nesta última residência que virá a falecer.
1894  Publicação de «As histórias: O Tesouro» e «As histórias: frei Genebro», na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro. A 14 de Fevereiro envia ao editor Lugan o primeiro capítulo de «A Cidade e as Serras». A 2 de Julho escreve uma carta a Lello & Irmão, sucessor de Lugan, onde declara que fica estabelecido que receberá 25% do preço de capa pelas suas obras. A 10 de Novembro menciona o projecto de uma nova revista «O Serão» com Alberto de Oliveira, que não chegará a concretizar. Sai a 3ª edição de «O Mistério da Estrada de Sintra».
1895  Organiza, em colaboração com José Sarmento e Henrique Marques, o «Almanaque Enciclopédico» para 1896. Publicação de «O Defunto» na Gazeta de Notícias. Passa férias em Portugal com a família, hospedando-se primeiramente no Chiado, por cima da Ourivesaria Leitão, hoje casa Vista Alegre na Rua Nova da Trindade e depois aluga casa em Sintra, na Quinta dos Castanhais.
1896  Organiza, com os mesmos colaboradores, o «Almanaque Enciclopédico» para 1897. Neste ano recebe a Legião de Honra Francesa. Numa carta à sua esposa confessa: «Também te interessará, ou antes divertirá saber, que já tenho le ruban. Já o tinha, há semanas. Mas o Rosa queria voltar de Contréxeville, para me fazer a investidura cerimoniosa. Excelente Rosa. Ele próprio me foi comprar a fitinha, e uma linda insígnia. E para lhe dar prazer, à noite, ao jantar, «j’arbore le ruban». Publicação de “Antero de Quental – In Memoriam” em que Eça colabora com o texto «Um génio que era um santo».
1897  Começa a publicação, em Paris, da Revista Moderna, publicada pelo brasileiro Martinho Carlos Arruda Botelho. Nos dois primeiros números publica os contos «A Perfeição» e «José Matias» e o número de 20 de Novembro é inteiramente dedicado a Eça de Queiroz, nele saindo o início d’ «A Ilustre Casa de Ramires». Em Agosto Eça, acompanhado pelo diplomata brasileiro Domício da Gama, faz uma cura termal em Plombières, a preceito do seu médico Dr. Melo Viana.
1898  Entre Abril e Junho, o “Anuário Diplomático” informa que Eça esteve em férias, em Portugal. Em Junho, o escritor visita novamente Santa Cruz do Douro na companhia do sobrinho de sua mulher, Luís. Neste período, visita o amigo Ramalho Ortigão, que se encontra doente, na sua casa em Cascais. Visita também, em Serpa, o conde de Ficalho, partindo daí para Corte-Condessa, onde a esposa herdara terras. Publicação na Revista Moderna do conto «O Suave Milagre», em versão remodelada de «Outro Amável Milagre», publicado em Abril de 1885, em “Um Feixe de Penas”.
1899  A 14 de Janeiro dá-se o «Banquete da colónia portuguesa», promovido por Francisco de Lacerda, o qual veio a dar origem à célebre estatueta-caricatura de Eça, modelada pelo escultor Francisco da Silva Gouveia. Prepara, em simultâneo, a publicação de três romances: «A correspondência de Fradique Mendes», «A Cidade e as Serras» e «A Ilustre Casa de Ramires» Em Maio visitará pela última vez a Tormes d’ «A Cidade e as Serras» e regressará a França, via Salamanca. Durante o Verão passa algumas semanas de férias com a família em Forest-par-Chaumes.
1900  Em Fevereiro, o romancista viaja pelo sul de França em busca de saúde – Arcachon, Biarritz, Pau e Lourdes. José Maria, o filho mais velho, em Junho, adoece gravemente com «coreia». Emília vai para Fontainebleau, enquanto Eça fica em Paris com os outros filhos, que são atacados pela escarlatina. Com a sua saúde agravada, a 28 de Julho, parte para a Suíça, via Genève, com Ramalho Ortigão. Instalado no Hotel du Righi Vaudois encontra o amigo Eduardo Prado e mulher. Os amigos do escritor seguem para Itália. Ficando pior, decide regressar a Paris, a 9 de Agosto. A 11 de Agosto chega a Paris, morrendo no dia 16 na Avenue du Roule, às 16h35m. Em Setembro, o corpo é trasladado para Portugal, realizando-se os funerais para o cemitério do Alto de S. João em Lisboa. Já em 1989 é trasladado para o cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião.

Adaptado de: MATOS, A.C. (1988)
Diccionário de Eça de Queiroz, Ed. Caminho